Rodrigo Guedes de Carvalho é um jornalista e romancista português. Apresenta o noticiário Jornal da Noite emitido pela emissora portuguesa SIC. Na sua bibliografia estão livros como: A Casa Quieta, Mulher em Branco, Canário, Pianista de Hotel, Jogos de Raiva, Margarida Espantada entre outros. Conheça o nosso selecionado dos melhores livros de Rodrigo Guedes De Carvalho.
O Pianista de Hotel transporta-nos numa melodia. É uma entrada para um mundo regido pela linguagem da música, pela sua força e beleza, presentes no ritmo de cada frase, de cada parágrafo rigorosamente medido. Livro em camadas, nele se cruzam diversos planos, diversas histórias perpassadas pelo poder redentor da música «que entra e rasga», a solidão, a dor e o vazio das pessoas que habitam nestas páginas. Com um vasto subtexto, a densidade das personagens está carregada de mistérios que nos prendem a sucessivas interrogações. Há um pouco de nós em todas elas. Há muito de nós neste mergulho ao mais fundo da alma humana. É um romance que se lê e ouve, que mantém todos os sentidos alerta. Uma pauta musical, com andamentos diversos, que acabam por se cruzar numa vertigem imprevisível de autêntico thriller psicológico. E, depois, há o pianista.
Uma vida contada através das treze casas a que Leonor Xavier chamou suas. O tema é tanto mais interessante quanto a autora viveu nessas casas experiências marcantes, não só para ela, mas para toda uma geração. Oriunda de uma família da média-alta burguesia, casada cedo com um jurista brilhante, com três filhos pequenos, passa do ambiente protegido de uma família tradicional numa casa da Lapa, para São Paulo, no Brasil, quando, em 1975, ela e o marido decidem começar uma nova vida fora de Portugal. A experiência - que foi certamente vivida por muitos portugueses que abandonaram Portugal nos anos 70 - é muito bem narrada no livro. Tudo é novo: a situação precária em que chegam, os trabalhos ocasionais, a nova escola dos filhos, a empregada brasileira, a solidariedade dos amigos que conhecem no Brasil, a língua diferente, os costumes muito mais livres. Mais tarde, o regresso a Portugal, a adaptação ao país diferente que vem encontrar, o recomeçar de novo, integrando na sua nova vida o espírito optimista, sem preconceitos e convivial que foi talvez, para além dos muitos amigos, o que de melhor lhe ficou da experiência brasileira. Numa escrita colorida e muito pessoal, Leonor Xavier dá-nos o retrato de dois mundos muito diversos que ela conseguiu conciliar como ninguém.
O que é uma família? Foz do Douro, 1923. Nasce Maria Virgínia Landim da Silva, em casa imponente da alta burguesia. Demonstra desde criança uma personalidade vincada, a firmeza de um propósito, um sentido de missão. Foz do Douro, 2023. O maestro Miguel Serafim, filho de Maria Virgínia, aguarda com ansiedade o reencontro com um amigo de adolescência que não vê há décadas. Abraçam-se, emocionados. Têm de preparar a celebração de um aniversário muito especial. E assim começamos a percorrer uma história que se estende por um século. Há paixões, fé e mentiras, numa galeria de personagens inesquecíveis. Juras e traições. Segredos tão fundos e inconfessáveis que nos fazem regressar constantemente à pergunta: o que é uma família? Em múltiplos cruzamentos entre o Porto, o Minho, a Galiza e Trás-os-Montes, o romance viaja entre o nevoeiro de um passado doloroso e a força terna da união de três amigos de infância. Talvez a amizade seja um outro nome para família. Talvez a amizade seja um outro nome do amor.
Uma criança desaparece. Estava à guarda do pai. O choque da notícia atira a mãe para um abismo de amnésia. Sem memória, é incapaz de chorar um filho que não sabe que tem. Como podemos continuar a viver se caminhamos vazios. E há um homem que arranja uma amante enquanto visita a mulher no hospital. Ladrões que roubam cinzas de uma morta.Há as maldades desumanas do amor, um sopro pérfido que o diabo sussurra aos ouvidos.Em fundo, a irracional violência do divórcio. A bestialidade das palavras que atiramos uns aos outros como pedras. Uma mulher que espera ainda e sempre, à janela. Porque o coração é um bicho e não ouve. E uma pergunta a que não se ousa responder: Para onde vão os amores que foram um dia?
«O autor demonstra uma maturidade invulgar na apreciação de uma época, de uma geração e uma mentalidade não directamente vividas por ele próprio mas que, com a devida distância, consegue descrever de forma exemplar [...] A escrita de Daqui a Nada é vigorosa sem ser agressiva, sensível sem ser lamechas, inteligente sem ser prepotente. Este livro é essencialmente um ajuste de contas com a História.» Helena Vasconcelos, in Público «O uso de técnicas variadas, a linguagem viva e coloquial, por vezes lírica, sempre que o espelho deforma ou transfigura a imagem, o cruzamento de reflexos entre o passado e o presente, o interesse que o leitor sente pelo desenvolvimento da história [...] O livro lê-se num fôlego, é pequeno, intenso e muito bem construído.» Maria Estela Guedes, in Diário de Notícias
Vá lá, aproxima-te, leitor. E tu, leitora. Não tenhas medo. Estou preso vai para três anos. Não vês as grades? Não te consigo tocar. Receias sequer olhar-me? Então escuta só, vou contar-te do escritor conceituado. Soube agora que sou seu filho. Não se lembra sequer da minha mãe, não sabia de mim. Recompôs-se, aceita-me, vem-me buscar. Vai-me conseguir a liberdade. É famoso, influente, já viste a minha sorte? Se me ouvires, vais saber que a mulher dele nem sonha que existo, vais ver o neto autista que ele finge não ver. Mais o padre que se dedicou a mim na prisão, que acredita que ainda vou a tempo, que jurou que não me deixa apodrecer aqui. O padre que me perdoa o crime horrível. Sim, o crime. Mas não te assustes. Não te afastes agora. Confia nas grades. Aproxima-te. Vou-te contar.
Margarida espantada é sobre família. Sobre irmãos. É sobre violencia doméstica e doença mental. É um e fe i to dominó sobre a dor. A literatura é um jogo do avesso. Os bons romances são sempre sobre amor, e os melhores são os que fingem que não são. Não de vemos recear livros duros. As histórias que mais nos prendem trazia uma catarse que nos carrega as mágoas, personagens que presentamos as suas semelhanças connosco. Gasto da ficção que é número arriscado de circo, com fogo e espadas, que nos faz chegar muito per to da queimadura que não vamos realmente sentir. Mas reconhecemos. (Rodrigo Guedes de Carvalho)